Um Museu sem Lugar: Museografia Intangível e Exposições Virtuais
O projecto unplace pretende discutir o conceito de “museografia intangível”, no campo das exposições de arte contemporânea, especificamente produzidas para contextos virtuais e em rede.
A par do fenómeno de mediatização e globalização das instituições museológicas, enquanto atracções turísticas e lugares de dinamização urbana e cultural, ao longo das últimas duas décadas multiplicaram-se os projectos para museus e exposições virtuais, sediados na Internet. Para além de meio indispensável de comunicação, para os museus, a Internet converteu-se num novo território de concretização de projectos de arquitectura de museus, design de exposições e curadoria, designadamente com o desenvolvimento de movimentos artísticos baseados em processos digitais, como a Arte Digital ou a Internet Art.
Apesar do potencial criativo que a desmaterialização possibilita, tanto a nível do contentor arquitectónico como das colecções ou conteúdos expositivos, assiste-se a uma paradoxal prevalência da reprodução da realidade material, mediante a digitalização de espaços e peças com existência física, em detrimento da criação de novos ambientes ou novas obras.
Por um lado, os museus de referência, a nível nacional e internacional, servem-se dos recursos digitais preferencialmente como uma forma de auto-representação e, embora possam promover projectos específicos para a Internet, investem sobretudo na divulgação das respectivas colecções e das actividades que têm lugar nos seus edifícios. As principais plataformas colaborativas internacionais, como o mediático Google Art Project ou, em Portugal, o MatrizNet, seguem também essa via, situando-se assim claramente no domínio da simulação do preexistente, aqui potenciado pela diversidade e pelo cruzamento de patrimónios com múltiplas localizações.
Por outro lado, constata-se que muitos dos museus criados de raiz para o ciberespaço, replicam modelos arquitectónicos projectados ou construídos em diferentes contextos históricos ou geográficos. Embora vários autores tenham proposto uma reflexão teórica sobre os novos paradigmas conceptuais subjacentes à emergência dos museus virtuais, no plano da arquitectura de museus e da museografia, a concretização prática tem privilegiado a replicação de estereótipos tradicionais, relegando a experimentação de novas soluções para situações episódicas.
Numa época em que se assiste a uma crescente valorização do património imaterial e, simultaneamente, ao desenvolvimento de várias práticas artísticas baseadas em processos digitais em rede, importa investigar novos paradigmas arquitectónicos e expositivos. Neste contexto, o presente projecto de investigação pretende, em primeiro lugar, compreender os motivos para a persistência das referências materiais nas manifestações contemporâneas de uma museografia virtual. Num segundo momento, procura-se analisar propostas inovadoras de superação destas referências convencionais e da ideia de réplica do existente, designadamente no campo das exposições virtuais e das plataformas colaborativas ligadas à arte contemporânea.
Finalmente, o estudo visa apontar um conjunto de hipóteses alternativas, para futuros desenvolvimentos no domínio da arquitectura de museus e exposições virtuais, em direcção a uma museografia que, embora fisicamente intangível, tem condições para ser mais acessível do que qualquer outra. Nesse sentido, e através do envolvimento do programa Próximo Futuro da Fundação Calouste Gulbenkian, propõe-se a constituição de uma rede de partilha e discussão de novos conceitos e práticas, com a participação de artistas, curadores, designers, arquitectos e investigadores, sediados em geografias múltiplas mas convergentes na sua ubiquidade virtual. Prevê-se ainda que esta plataforma seja acessível a um público alargado e possa, posteriormente, fundamentar e motivar uma exposição de arte contemporânea totalmente web-specific. Assumindo a intenção, complexa e contraditória, de preservação e difusão do património imaterial como valor cultural da contemporaneidade, pretende-se assim dar um contributo para (re)formular o conceito de museografia intangível, partindo de um campo singularmente revelador: o espaço de encontro, a um tempo real e virtual, entre a arquitectura, a arte contemporânea e as novas tecnologias.
O projecto unplace é financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia através do Orçamento de Estado. Ref. EXPL/CPC-EAT/1175/2013.